Olhos maus & vistas recobradas

Ângela Christina Néris
3 min readApr 28, 2024

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O capítulo 20 de Mateus começa com uma parábola de Jesus que pode ser considerada por muitos como uma adaga no coração.

Expliquemos. A parábola é a dos trabalhadores na vinha: o dono da vinha vai chamando ao longo do dia pessoas que se encontram desocupadas para que trabalhem em sua vinha e ganhem, ao cabo do dia, o valor justo.

Ele começa afirmando aos que contratou primeiro que pagaria a eles um denário (equivalente a um salário diário), e à medida que vai chamando os outros, no decorrer do dia, diz apenas que pagaria “o que for justo” (v. 4).

Ao começar a pagar, chamando primeiramente os últimos e pagando a eles um denário, imaginam erroneamente os primeiros contratados que receberiam mais.

10 Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um. 11 Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa, 12 dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia. 13 Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? 14 Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. 15 Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?

(Mateus 20:10–15)

Jesus diagnostica ao final dessa parábola, na pessoa do dono da vinha, que os olhos dos trabalhadores primeiramente contratados eram maus por Ele ser bom e dar a mesma recompensa aos que trabalharam menos.

Isso pode trazer luz ao nosso coração soberbo e arrogante por muitas vezes nos vermos exatamente como integrantes do primeiro grupo, não contentes e nos sentindo injustiçados com o fato de a recompensa ser a mesma para ambos os grupos, uma vez que os primeiros contratados muito mais persistiram na senda do trabalho duro.

Interessantemente, no mesmo capítulo de Mateus, bem ao final, Jesus acaba se encontrando com dois cegos, que assentados à beira do caminho, tendo ouvido que Jesus passava, começam a clamar e gritar cada vez mais alto por compaixão e misericórdia do Senhor, o Filho de Davi. Ao serem perquiridos a respeito do que eles desejam que Jesus a eles faça, eles dizem sem temor nem meias palavras: “Que se nos abram os olhos!”, obtendo do Mestre o toque condoído e milagroso que a eles recuperou a vista.

Tanto no início como no final os olhos são mencionados — lá no versículo 15, Cristo expressa desaprovação pelos olhos maus, que refletem corações não engajados na grande obra que o Dono da vinha está fazendo, por espíritos repletos de murmuração, ingratidão e comparação; já no fim do capítulo, com o episódio dos cegos, porém, está a chave e a resposta para cada de um nós que nos virmos olhando o denário alheio também recebido.

A chave e a resposta são de fato reconhecermos a nossa necessidade e carência extremas de bons olhos, a urgência e a miséria de termos verdadeiramente uma vista cega para ver o que o Senhor tem feito, como Ele nos recompensa diariamente pelo fato de termos labutado com temor e amor pelo Dono da Vinha e junto com Ele, entendendo que precisamos pedir e clamar e gritar cada vez mais alto “Senhor, ajuda-nos! Que se nos abram os olhos!”.

Que nossos olhos maus se nos sejam abertos pelo Filho do Homem e enfim possamos ver que nem um denário a nós é cabido, pois muito maior dívida é a nossa pelo que fizemos e deixamos de fazer!

Que o Senhor nos ajude!

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